3 de abril de 2008

Jean Nouvel recebe Oscar de Arquitetura!

Jean Nouvel, o audacioso arquiteto francês conhecido por projetos exoticamente diversos como o muscular Guthrie Theater, em Minneapolis, e o Instituto do Mundo Árabe, uma construção repleta de arcos em Paris, recebeu a maior honraria da arquitetura, o Prêmio Pritzker.







Nouvel, 62 anos, é o segundo cidadão francês a levar o prêmio, concedido anualmente a um arquiteto vivo por um júri apontado pela Fundação Hyatt. (Christian de Portzamparc havia ganho em 1994.)

"Por mais de 30 anos, Jean Nouvel levou o discurso e práxis da arquitetura a novos limites", afirmou o júri do prêmio ao anunciar a decisão.

"Sua mente inquisitiva e ágil o propele a aceitar riscos em cada um de seus projetos, não importa que grau de sucesso venham a obter, e com isso ele expandiu muito o vocabulário da arquitetura contemporânea."

Ao ampliar esse vocabulário, Nouvel vem desafiando as categorizações fáceis. Os edifícios dele não portam assinaturas facilmente identificáveis, como as curvas de Frank Gehry ou os átrios ensolarados de Renzo Piano.

Mas cada um tem algo de distintivo, único, seja a torre Agbar, em Barcelona, um edifício de escritórios de forma balística e cor de caramelo, inaugurado em 2005, ou o centro cultural e de convenções KKL (2000), em Lucerna, Suíça, cujo teto de cobre se estende delicadamente por sobre as águas do lago Lucerna.

"A cada vez tento descobrir o que defino como peça que falta no quebra-cabeça, o edifício certo no lugar certo", comentou Nouvel recentemente, em conversa à mesa de chá, em Nova York.

Mas ele não projeta edifícios de maneira que simplesmente ecoe aquilo que os cerca. "Em geral, quando você fala em contexto, as pessoas imaginam que deseje copiar os edifícios vizinhos, mas muitas vezes contexto pode querer dizer contraste", afirmou.

"O vento, a cor do céu, as árvores em volta ¿ o edifício não é feito apenas para ser o mais belo", ele disse. "É feito para destacar o entorno. Trata-se de um diálogo."

O prêmio, um medalhão de bronze e US$ 100 mil em dinheiro, será entregue a Nouvel em 2 de junho, em uma cerimônia na Biblioteca do Congresso, em Washington.

Entre os edifícios de Nouvel em Nova York, estão o 40 Mercer, um edifício residencial de luxo, concluído no ano passado no SoHo, e uma torre que combina hotel e museu em seus 75 andares e deve ser construído ao lado do Museu de Arte Moderna, na região central de Manhattan.

Em artigo para o New York Times em outubro, Nicolai Ourossoff afirmou que a torre "promete ser a mais inspiradora adição à paisagem da cidade em uma geração".

Nascido em Fumel, no sudoeste da França, em 1945, Nouvel pretendia ser artista, mas seus pais, ambos professores, desejavam uma vida mais estável para o filho, ele conta, e por isso a família chegou a um acordo em torno da arquitetura.

"Compreendi que era possível criar composição visuais" que, segundo ele, "pode-se instalar diretamente na rua, na cidade, no espaço público". Aos 20 anos, ele conquistou o primeiro prêmio em um concurso nacional de admissão à École de Beaux-Arts, em Paris.

Aos 25 anos ele já havia aberto seu primeiro escritório de arquitetura, com François Seigneur, ao qual se seguiriam diversos outros sócios.

Nouvel cimentou sua reputação em 1987 com o Instituto do Mundo Árabe, um dos "grandes projetos" comissionados durante a presidência de François Mitterrand.

Ponto de exposição para a arte do mundo árabe, o edifício combina alta tecnologia e motivos árabes tradicionais. A fachada de vidro, por exemplo, dispõem de lentes automatizadas que controlam o fluxo de luz para o interior e evocam as filigranas metálicas características da construção árabe.

Para o Guthrie Theatre, um projeto com aparência industrial que aproveita como estrutura uma antiga ponte por sobre o rio Mississipi, Nouvel optou por experimentar com o uso de cor.

O teatro está envolto em metal azul escuro; há um pequeno terraço de um amarelo brilhante; imagens em LEDs alaranjados surgem nas duas torres do complexo.

O júri do Pritzker afirmou que o Guthrie, concluído em 2006, "tanto se funde quanto contrasta com o entorno", acrescentando que "ele responde à cidade e ao rio Mississipi que corre por perto, e ao mesmo tempo é uma expressão de teatralidade e do mundo mágico do espetáculo".

A maioria dos trabalhos de Nouvel foi realizada na Europa. Um dos projetos mais conhecidos é o do Museu do Quai Branly, em Paris, concluído em 2006, uma excêntrica combinação de elementos que inclui um bloco de vidro sobre duplas colunas, algumas caixas coloridas, entradas de ventilação cor de ferrugem e um tapete vertical de plantas.

Antes de começar a sonhar um novo projeto, diz Nouvel, ele pesquisa profundamente sobre a função da construção e seu entorno. "A história, o clima, os desejos do cliente, as regras, a cultura do lugar", afirma.

"As referências dos edifícios que estão localizados em volta, o que as pessoas da cidade amam." "Preciso de análise", ele disse, acrescentando que toda pessoa "é produto de uma civilização, de uma cultura".

Ele acrescenta que "eu, por exemplo, nasci na França depois da Segunda Guerra Mundial. O movimento mais importante era o estruturalismo. Não consigo realizar um edifício sem analisar".

Ainda que se apegue aos seus projetos, disse Nouvel, ele compreende que, como pessoas, eles mudem e cresçam ao longo do tempo, e que possam até desaparecer.

"A arquitetura é sempre uma modificação temporária do espaço, da cidade, da paisagem", disse. "Nós imaginamos que seja permanente. Mas não há como sabermos."

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